27 de maio de 2020

NICHA CABRAL


Mário Veloso de Araújo Cabral, mais conhecido como Nicha Cabral, nasceu no dia 15 de Janeiro de 1934 em Cedofeita, no Porto, Portugal.
Filho de uma abastada família que estava ligada ao ramo têxtil, Nicha Cabral foi educado para ser tudo, menos piloto de corridas.
Frequentou o Colégio Valsassina, em Lisboa, teve aulas de música no Conservatório Nacional e foi atleta de ginástica, no Ginásio Clube Português, um dos melhores em Portugal e chegou a integrar a lista dos seleccionados pela Federação Portuguesa de Ginástica para disputar os Jogos Olímpicos de 1952, no entanto acabou por não viajar para Helsínquia, pois na fase de preparação para as olimpíadas, partiu um pé.
As suas atenções viraram-se então para o automobilismo, contrariando o seu pai que sempre desejou que Nicha Cabral terminasse o ensino superior e desse continuidade aos negócios da família.
Em 1952 tirou a carta de condução e o seu pai ofereceu-lhe um Volkswagen Carocha, que Nicha Cabral usou para fazer as suas primeiras habilidades. No ano seguinte adquiriu um Triumph TR2, que viria a ser o seu primeiro carro de corrida e foi com esse carro que se estreou nas provas de automobilismo quando disputou o Rali da Feira do Ribatejo em 1955. A primeira prova mais a sério que disputou foi a Rampa da Pena, ainda com o Triumph TR2 mas já com algumas melhorias, o que lhe deu a possibilidade de vencer a sua classe e ser 3º na geral.
Em 1958 correu os 1000 Quilómetros de Nurburgring com um Alfa Romeo Giuletta Sprint, terminando a sua categoria no 2º lugar, o que abria boas expectativas de uma carreira internacional.
Em 1959 Nicha Cabral estreou-se no Campeonato do Mundo de F1 no Grande Prémio de Portugal em Monsanto, tornando-se no primeiro português a participar numa prova de Formula 1. À partida, alinhavam dezasseis carros e Nicha ocupava a 14ª posição da grelha. Depois de uma boa partida, que lhe permitiu subir algumas posições, acabou por ser ultrapassado e descer alguns lugares, mas ainda assim terminou a corrida no 10º lugar, depois de deixar passar, por interpretação errada de um sinal da sua box, o inglês Tony Brooks. A corrida de Nicha Cabral em Monsanto não foi propriamente um passeio. Na 23ª volta, quando Jack Brabham se preparava para o dobrar, um mal-entendido entre os dois pilotos resultou no despiste do australiano e na sua desistência.
No ano seguinte, Nicha Cabral voltou à F1 para disputar o Grande Prémio de Portugal no Circuito da Boavista. Nos treinos levou o seu Cooper-Maserati ao 15º lugar e na corrida foi obrigado a desistir na 38ª volta com problemas na caixa de velocidades, na descida da Circunvalação. O vencedor da prova foi Jack Brabham.
Depois dessas duas corridas, Nicha Cabral só voltou à F1 em 1963 para disputar o Grande Prémio da Alemanha e o Grande Prémio de Itália, desta vez com o Cooper-Climax. Em Nurburgring largou do 20º lugar e desistiu na 6ª volta com problemas na caixa de velocidades, depois em Monza o piloto português não conseguiu qualificar-se e não chegou a largar para a corrida.
Nicha Cabral regressou a Monza no ano seguinte. Dessa vez conseguiu a qualificação para a corrida com o 19º tempo, já a corrida voltou a não correr bem pois somou mais uma desistência, quando o seu ATS teve problemas de ignição na 24ª volta. Essa foi a última participação de Nicha Cabral na F1.
Em 1965 a equipa de F2 Sorocaima ofereceu-lhe um lugar para competir no campeonato. No circuito de Rouen-les-Essarts em França, Nicha Cabral estreou-se na sua nova equipa. A corrida que poderia ter sido um grande impulso na sua carreira, acabou por quase lhe tirar a vida. Na 14ª volta, despistou-se, o carro ficou completamente destruído, Nicha Cabral sofreu várias fracturas e por pouco não teve a sua perna direita amputada. Isso talvez só não tenha acontecido porque ao seu lado se encontrava um amigo (Jonas Marques Pinto) que a isso se opôs totalmente, contrariando a opinião da equipa médica francesa. O acidente foi tão grave que alguns jornais italianos chegaram a noticiar o seu falecimento. Depois, quando se soube que recuperava, apesar do seu estado lastimoso, quase todos pensaram que nunca mais voltaria a correr. Ele mesmo chegou a pensar isso, mas acabou por acontecer o contrário.
Em 1968 voltou à competição. Disputou várias corridas de Sport , Turismo e Formula 2 até terminar a sua carreira em 1975.
Mário Araújo "Nicha" Cabral faleceu no dia 17 de Agosto de 2020, aos 86 anos.
Foram quatro os Grandes Prémios de F1 que Nicha Cabral disputou, os bastantes para fazer parte da história do automobilismo como o primeiro piloto português a participar no Campeonato Mundial de Formula 1.

1 comentário:

Por Dentro dos Boxes disse...

Não conhecia essa história do Nicha... sensacional... ele foi um abnegado... e claro, superou as adversidades para seguir em frente.