27 de janeiro de 2021

GILLES VILLENEUVE


Joseph Gilles Henri Villeneuve nasceu no dia 18 de Janeiro de 1950 em Saint-Jean-sur-Richelieu, na província de Quebeque, Canadá.
Filho de um afinador de pianos e de uma dona de casa, Gilles cresceu na cidade de Berthierville. Com apenas dez anos de idade o seu pai deixou-o conduzir a carrinha VW da família, acendendo aí a chama da paixão pelo automobilismo. Cinco anos mais tarde, numa noite chuvosa, apoderou-se da chave do carro do seu pai e destruiu o Pontiac Grand Parisienne após bater em dois postes telefónicos quando seguia a cerca de 150 quilómetros por hora. Com 16 anos, tirou a carta de condução e começou a namorar com Joann Barthe, com quem se casou em Outubro de 1970, tendo dois filhos, Jacques (que viria a ser Campeão do Mundo de F1 em 1997), e Melanie.
Depois de se ter graduado em arquitetura iniciou a sua carreira de piloto ao disputar provas de arranques com o seu Ford Mustang de 1967. Nessa época, Gilles passou também a disputar provas de snowmobile, competição muito popular no Quebeque, tendo conquistado várias vitórias e o título de Campeão Mundial de Snowmobile em 1974. 
Em 1973, inscreveu-se na Jim Russell Racing School no circuito canadiano Mont-Tremblant. Com o curso de pilotagem na mão, Gilles correu no campeonato canadiano de Formula Ford 1600, sagrando-se campeão. O passo seguinte foi a Formula Atlantic, competição que venceu em 1976 quando ganhou nove das dez corridas. 
Ainda na Formula Atlantic e também em 1976, no Grande Prémio de Trois-Rivière foram vários os pilotos de F1 convidados a participar na corrida, como Alan Jones, Vittorio Brambilla e James Hunt que viria a sagrar-se Campeão Mundial de F1 nesse ano. Gilles não se deixou intimidar, obteve a pole-position e venceu de forma brilhante a corrida. No regresso a Inglaterra, James Hunt teceu enormes elogios a Villeneuve tendo mesmo recomendado a sua contratação a Teddy Mayer, o dono da McLaren. 
Pressionado por John Hogan, o patrão da Marlboro, Teddy Mayer contratou Gilles para correr cinco provas de F1 em 1977 e competir em provas de F2, mas depressa Villeneuve notou que o contrato não iria ser totalmente comprido pois nunca disputou nenhuma das prometidas corridas de F2, e resolveu voltar a participar na Formula Atlantic. Ainda em 1977, Gilles participou em provas da Can-Am com a equipa Wolf.
No dia 16 de Julho de 1977. Gilles Villeneuve estreou-se na F1 no Grande Prémio de Inglaterra em Silverstone, ao volante de um McLaren M23, o modelo que James Hunt usou no ano de 1976 quando conquistou o título mundial, ao contrário dos seus companheiros de equipa que usavam o novo McLaren M6. Depois de ter obtido o 9º lugar para a grelha de partida, à frente do seu colega de equipa Jochen Mass, Gilles terminou a corrida na 11ª posição devido a problemas com o indicador de temperatura da água que o fez perder duas voltas parado nas boxes. Após a corrida Gilles regressou ao Canadá onde ficou a saber que a McLaren não estava interessada em voltar a contar com os seus serviços. Uns dias depois, Villeneuve recebeu um telefonema de Ennio Mortara, o assessor de Enzo Ferrari, a perguntar se estava interessado em guiar para a Ferrari. No dia 29 de Agosto de 1977, Gilles aterrou em Milão e na companhia de Mortara visitou a fábrica da Ferrari em Maranello onde foi entrevistado pelo Commendatore Enzo Ferrari. Nesse mesmo dia, Niki Lauda anunciou que iria deixar a Ferrari para ingressar na Brabham, o que deixava uma vaga na equipa de Maranello para 1978. Convidado pela Ferrari para assistir ao Grande Prémio de Itália, Gilles voltou a encontrar-se com Enzo em Monza, onde ficou a saber que também Mario Andretti era equacionado para ocupar a vaga deixada livre por Lauda. Na segunda-feira seguinte, Gilles voltou a Maranello para fazer o banco à sua medida que iria usar para testar o carro de Lauda. O piloto canadiano chegou à pista de testes da Ferrari em Fiorano com um Fiat 131, de jeans e blusão de cabedal. Andretti que tinha lá estado instantes antes chegou de Rolls-Royce, anel de diamantes e aquele sorriso típico do norte-americano. Enzo e Piero Lardi Ferrari, António Tomaini e Mauro Forghieri foram os únicos responsáveis da Ferrari que assistiram ao teste de Villeneuve. O Canadiano fez diversos piões e mostrou grande insegurança, tendo ficado a pouco mais de 1 segundo do recorde da pista que pertencia a Carlos Reutemann. Ainda assim, Enzo Ferrari ficou satisfeito com o teste, mas Gilles não ficou agradado com o carro que tinha as afinações de Niki Lauda e regressou ao Canadá sem grandes esperanças de ser contratado pela Ferrari. Duas semanas depois e sem ter respostas de Itália, Gilles telefonou para Maranello com uma desculpa esfarrapada sobre as contas de hotéis na esperança que lhe dissessem algo, mas não disseram. Cinco minutos depois o telefone tocou, Gilles atendeu e do outro lado da linha estava Enzo Ferrari a perguntar-lhe se estava pronto para assinar pela Ferrari.
Gilles Villeneuve assinou um contrato com Ferrari nos seguintes termos: de salário por época, 75 mil dólares, mais 15 mil para ajudas de custos nas despesas de viagens da família, e ainda 25% dos patrocínios do carro. Fora isso, Gilles tinha direito ao seu fato de corridas e ao seu capacete.
Poucos dias antes da penúltima prova da temporada de 1977,  o Grande Prémio do Canadá, Lauda, já campeão, deixou a Ferrari e Villeneuve ocupou o lugar do austriaco. A correr em casa, Gilles largou do 17º lugar e na corrida desistiu a quatro voltas do fim com problemas de transmissão no seu carro, ainda assim classificou-se em 12º. Na corrida seguinte, no Japão, Gilles obteve apenas o 20º tempo nos treinos de qualificação. Na 5ª volta e quando tentava ultrapassar o Tyrrell-Ford de Ronnie Peterson, os dois carros bateram com o Ferrari de Villeneuve a levantar e a bater de frente no chão, sendo catapultado no ar e acabou por cair fora dos rails. No acidente morreu um espectador e um guarda que estava no local a tentar retirá-los dali. Do carro sobrou o cockpit, com Gilles dentro, e o motor agarrado. Miraculosamente, os dois pilotos nada sofreram e imediatamente Gilles procurou Ronnie para lhe pedir desculpas e explicar que tinha ficado sem travões.
Em 1978, Gilles teve a sua primeira temporada completa de F1. Nas cinco primeiras corridas o canadiano colecionou quatro desistências, mas na sexta prova do campeonato, o Grande Prémio da Bélgica, obteve os seus primeiros pontos com o 4º lugar. Depois de mais cinco corridas fora dos lugares pontuáveis, Gilles conseguiu o seu primeiro pódio com o 3º lugar no Grande Prémio da Áustria. Após o 6º lugar conseguido na Holanda, Villeneuve iria correr em Monza pela primeira vez e logo como piloto da Ferrari. Com o 2º lugar na grelha de partida, ao lado do Lotus-Ford de Mario Andretti, os dois pilotos largam ainda antes da luz verde acender e são ambos penalizados com 1 minuto no seu tempo total de corrida, o que atirou Gilles para o 7º lugar final, fora dos lugares pontuáveis. Nessa corrida aconteceu o terrível acidente que ceifou a vida ao sueco Bonnie Peterson, o que deixou Villeneuve bastante abalado. Depois de nova desistência nos Estados Unidos, seguiu-se o Grande Prémio do Canadá no novo circuito da Ilha de Notre-Dame, em Montreal, no Quebeque. Gilles conseguiu o 3º tempo nos treinos de qualificação, mas na corrida ascendeu à liderança na 50ª volta e nunca mais deixou o primeiro lugar, vencendo a prova perante setenta mil compatriotas. Logo após a sua primeira vitória na F1, Gilles afirmou que aquele era o dia mais feliz da sua vida.
Em 1979, Gilles teve Jody Scheckter como companheiro de equipa. Depois de ter desistido na Argentina e de ter sido 5º no Brasil, Villeneuve conquistou a vitória na África do Sul e em Long Beach, onde obteve ainda a sua primeira pole-position. Nas onze corridas seguintes, Gilles desistiu por duas vezes, no Mónaco com problemas de transmissão e na Holanda, onde liderava a corrida (depois de uma extraordinária ultrapassagem de Alan Jones pelo exterior), até sair da pista com um pneu furado, o que não o impediu de regressar à corrida, percorrendo uma volta quase inteira com três rodas até às boxes. Foi preciso os mecânicos convencê-lo de que nada havia a fazer com a roda toda destruída. Foi 2º em França (onde travou uma dura batalha com o Renault de René Arnoux e que ficou para a história da F1 como um dos seus momentos mais épicos), Áustria, Itália e Canadá, e ganhou o Grande Prémio dos Estados Unidos. No final do campeonato foi 2º classificado, atrás do seu companheiro de equipa e ambos deram à Ferrari o título de Campeão Mundial de Construtores. 
O ano de 1980 foi para esquecer. Com o ultrapassado Ferrari 312 T5, Gilles nada conseguiu fazer para contrariar a maior competitividade dos Williams e dos Brabham e o melhor que conseguiu foi dois 5ºs lugares no Mónaco e no Canadá, e dois 6ºs na Bélgica e na Alemanha.
Em 1981, Didier Pironi substituiu Jody Scheckter que se retirou da F1. A Ferrari esteve um pouco melhor e apesar de Villeneuve ter desistido em oito das catorze provas do campeonato, venceu no Mónaco e em Espanha, sendo 3º no Canadá e 4º na Bélgica.
Em 1982, a Ferrari deu a Villeneuve e Pironi um carro bem melhor que os anteriores e que lhes dava a possibilidade de vencer corridas regularmente. Na primeira prova da temporada, na África do Sul, Gilles desistiu com problemas no turbo do seu carro. Na corrida seguinte, no Brasil, Villeneuve liderou a corrida durante 29 voltas até sofrer um acidente que o obrigou a abandonar a corrida. Seguiu-se o Grande Prémio de Long Beach onde Gilles terminou em 3º lugar mas mais tarde foi desclassificado devido à asa frontal do seu Ferrari não estar conforme os regulamentos. Na quarta prova da temporada, o Grande Prémio de San Marino, Villeneuve assumiu a liderança quando o Renault de Arnoux abandonou na 44ª volta. Com Pironi logo atrás de si, Gilles ficou convencido que tinha a vitória no bolso quando a Ferrari deu a indicação para ambos os pilotos diminuírem de velocidade, mas é surpreendido pelo seu colega de equipa, Pironi, que o ultrapassa desrespeitando as indicações da Scuderia. No pódio o ambiente é pesado, com Villeneuve a não disfarçar o sentimento de traição. Na prova seguinte, em Zolder, na Bélgica, Gilles ainda não tinha digerido o que se tinha passado em Imola e estava determinado em obter a pole-position. Numa das suas voltas, Gilles encontrou o March-Ford de Jochen Mass bem mais lento. Villeneuve decidiu ultrapassar Mass pela direita, mas nesse preciso momento o piloto alemão desviou-se também para a direita e o Ferrari de Gilles bateu na traseira do March e foi lançado ao ar, a cerca de 225 quilómetros por hora, o Ferrari voou cerca de 100 metros até cair com estrondo no chão. Villeneuve foi lançado contra a cerca de proteção a 50 metros de distância, onde caiu ainda preso ao banco mas já sem capacete. Foram vários os pilotos que pararam e correram para o local do acidente. O primeiro médico demorou 35 segundos a chegar ao local e apercebeu-se que Gilles não estava a respirar apesar de ainda ter pulsação. Villeneuve foi entubado e ventilado antes de ser transferido para o centro médico do circuito, depois foi levado de helicóptero para o Hospital Universitário St. Raphael em Lovaina, onde uma fratura fatal do pescoço foi diagnosticada, Gilles foi mantido vivo em suporte vital, enquanto a sua esposa Joann Barthe viajou de Monte Carlo para o hospital e os médicos consultaram especialistas em todo o mundo. Depois que Joann chegou à Bélgica, Gilles Villeneuve foi oficialmente declarado morto às 21 horas e 12 minutos do dia 8 de Maio de 1982.
Em sua homenagem, o circuito de Montreal foi renomeado como Circuito Gilles Villeneuve e na linha de partida está escrito: “Salut Gilles”. No circuito de Imola e também em Zolder, uma curva foi batizada com o seu nome. Na entrada principal da pista de testes da Ferrari em Fiorano, está um busto em bronze de Gilles Villeneuve, o piloto que um dia Enzo Ferrari comparou a Tazio Nuvolari.
Gilles Villeneuve esteve 6 anos na F1. Disputou 67 Grandes Prémios. Conquistou 6 vitórias, 2 pole-positions, 8 voltas mais rápidas e 13 pódios. 

1 comentário:

Por Dentro dos Boxes disse...

Eu vi a carreira toda dela na F-1. Fiquei triste quando soube de sua morte. Era destemido. Teria sido campeão não fosse a "lambança" interna da Ferrari. Mas deixou seu legado.